sábado, 26 de novembro de 2011

conversa que não foi

Você está linda. Nem sei quanto tempo se passou.
Vejo que os anos deixaram linhas no teu rosto.
Essas no canto dos teus olhos
são de risos que demos juntos.

- E de lágrimas que chorei quando você partiu.

Mas tua boca está mais vermelha.

- São dos amores que beijei.

Então você viveu sem mim.

- Você não me deixou escolhas. O peso dos anos me marca o corpo. Estou mais cansada, mas não menos viva.
Me alimentei de sonhos por algum tempo, quando a bebida e o cigarro já não me anestesiavam
encontrei um olhar, mas não fiz residência.
Me apeguei até a última gota àquela fotografia amarelada que você tirou de mim.
Eu estava bonita.
Por que você me deixou?

Fui porque tive que ir.

- Você conheceu outras mulheres?

Por que perguntar o que não quer ouvir?
Deixe-me beijar teus olhos, tuas mãos desfeitas.

- Você não me avisou que vinha.

Queria encontrar-te como és.

- Vens falar agora de como sou? Já não me conheces mais.

Não fala assim. Sei de tudo o que vivemos. Sei que adora girassóis. O cheiro de páginas escritas, o gosto do suor na pele.
Não, não chora. Te levanta e vamos dançar.

- Mas não tem música.

Claro que tem. Fecha os olhos. Escuta o violão. Ele toca pra você.

- Não podemos voltar atrás.

Não estamos voltando, estamos refazendo nossos sonhos. Agora juntos. Isso. Agora chora. Não te solto deste abraço.

(Rio, 07/09/2010)

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