Você está linda. Nem sei quanto tempo se passou.
Vejo que os anos deixaram linhas no teu rosto.
Essas no canto dos teus olhos
são de risos que demos juntos.
- E de lágrimas que chorei quando você partiu.
Mas tua boca está mais vermelha.
- São dos amores que beijei.
Então você viveu sem mim.
- Você não me deixou escolhas. O peso dos anos me marca o corpo. Estou mais cansada, mas não menos viva.
Me alimentei de sonhos por algum tempo, quando a bebida e o cigarro já não me anestesiavam
encontrei um olhar, mas não fiz residência.
Me apeguei até a última gota àquela fotografia amarelada que você tirou de mim.
Eu estava bonita.
Por que você me deixou?
Fui porque tive que ir.
- Você conheceu outras mulheres?
Por que perguntar o que não quer ouvir?
Deixe-me beijar teus olhos, tuas mãos desfeitas.
- Você não me avisou que vinha.
Queria encontrar-te como és.
- Vens falar agora de como sou? Já não me conheces mais.
Não fala assim. Sei de tudo o que vivemos. Sei que adora girassóis. O cheiro de páginas escritas, o gosto do suor na pele.
Não, não chora. Te levanta e vamos dançar.
- Mas não tem música.
Claro que tem. Fecha os olhos. Escuta o violão. Ele toca pra você.
- Não podemos voltar atrás.
Não estamos voltando, estamos refazendo nossos sonhos. Agora juntos. Isso. Agora chora. Não te solto deste abraço.
(Rio, 07/09/2010)
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